Relato de Parto
7 dias, 12 horas e 32
minutos:
O Processo de Parto da
Joana e do Joaquim (e do Rodrigo)
36 semanas e 6 dias
Minha bolsa estourou numa quarta
feira, às 36 semanas e seis dias de gestação, oito e quinze da manhã. Não um
estouro sensacional, cinematográfico, onde aquela água inunda a roupa e o
ambiente, como um mar revolto. Estourou timidamente, como uma bexiga que fura
no topo, assim, sem avisar.
Acordo, desço as escadas para
falar com a faxineira e sinto uma porção de água escorrer de mim. Quente.
Meu filho estava vindo...!
Ligo para a minha doula, Maíra
Duarte, que estava dormindo, pois havia voltado de um parto. Rodrigo, meu
companheiro, diz que minha parteira estava junto com a doula. Mas e agora?
Ligar? Resolvi perguntar para a lista Materna
o que eu deveria fazer neste caso, já que as duas estavam cansadas e dormindo.
Disseram-me “Joana, ligue!”. Liguei e Ana Cristina Duarte, minha
parteira-parceira, me perguntou sobre que hospital eu gostaria de ir. Mas, Ana,
eu não vou para o hospital, lembra? Estamos no limite. Parto domiciliar é a
partir das 37 semanas. Lembra? Lembro, mas banco. Não vou pra hospital nenhum.
Vamos esperar as contrações chegarem e decidimos. Ok, sem streptococus, podemos
relaxar.
Passo os lençoizinhos que faltam
e faço a lasanha que havia programado para o dia do parto. Muitas horas correm.
Rodrigo também estava agilizando pendências. Pequenas, mas muitas. Aviso às
pessoas que amo (que burrada!), pressiono meu padrinho com o cosleeper que
havia mandado fazer para nós (não, não estava pronto). E nada. Nenhuma
contração. Nenhuminha! Mas continuo vazando, delicadamente. Pude conter toda a
água em absorventes. Sempre límpida e sem cheiro.
Cai a noite. Me aconchego. Durmo.
37 semanas
O dia se levanta; a quinta feira.
Eu me levanto, Rodrigo se levanta, e nenhuma contração se levanta junto
conosco.
Fui à consulta marcada com a
parteira, medimos o tamanho do útero, confabulamos sobre as possibilidades de
rompimento: ruptura alta ou ruptura de bolsa externa? Não sabemos nem vamos
saber até que o parto aconteça, portanto, vamos monitorar.
37 semanas e 2 dias
Sábado fiz exame de sangue para
ver se havia alguma infecção. Não, não há. Podemos relaxar mais! Maravilha, meu
bebezinho... Mamãe está tranquila e te espera! Saímos para comprar algumas
coisas para o quartinho do Joaquim e para o parto. Algumas contrações começaram.
Eu andava, vazava e eventualmente contraia com força. Sinto que não são fortes
o suficiente, são bastante espaçadas e estão começando a me preparar, só isso.
Isso se chama pródromos, Rodrigo! Pródromos! OK, meu amor. Me abraça, me
aperta, se dependura em mim! E ali nasceu o pai que estava dentro do ovo com a
casca tão alva...
37 semanas e 4 dias
A segunda feira chegou e fomos
fazer nosso ultrassom de monitoramento. As contrações permaneciam espaçadas e
presentes desde sábado. Andar de carro nunca foi tão horrível! Os buracos
pareciam precipícios infinitos e duros. ILA 7,8. O normal? 8. Aquela vadia
daquela mediquinha de quinta categoria me disse para ligar imediatamente para o
médico e ir internar. Qual hospital, você já sabe? Quer que eu ligue para o
médico? Você tem que ir direto! É claro que comecei a chorar na hora... Não quero fazer cesárea! Não, se desesperou,
mas isso nem é indicação para cesárea! Pois ficou com medo, né, mediquinha? Fomos
embora e chegando em casa liguei para a parteira, que pediu que eu ligasse para
o obstetra. Minha médica estava de férias, então liguei para seu back-up,
ninguém mais que Jorge Kuhn. Bom, se eu precisasse ir para o hospital, sabia
que estaria bem amparada. Mas seu Jorge não pegou leve e foi logo dizendo que
parto em casa só se tudo corresse perfeitamente. Orientou-me para que bebesse
pelo menos 3 litros de água naquele dia, que fizesse uma cardiotocografia e
repetisse isso mais o ultrassom todos os dias até que o trabalho de parto
começasse ou decidíssemos pela indução sintética. Chorei copiosamente, liguei
novamente para a parteira e disse bem alto “Eu não quero ir para o hospital”!
Ela calmamente me diz Ok, Jo, vamos seguir as orientações e esperar. Ainda está
tudo bem. Cardiotocografia de livro, Joana! Seu bebê está ótimo! Conhecemos o
Dr. Jorge no São Luís, onde fizemos o exame com a própria parteira, que estava
lá com ele resolvendo um parto pélvico e prematuro.
Passei todo meu dia bebendo água
e repousando. Já vazava bem menos. Estava muito preocupada. Mas não com o bebê,
pois ele estava bem. Preocupava-me a possibilidade de ter de parir num hospital
inóspito e branco. Chorei por diversas vezes. Poxa! Não é justo! Uma gestação
perfeita e agora isso?! Cai a noite e as contrações se intensificam e se
aproximam. Amor, vamos contar? 9, 8, 10, 12, 7, 9, 8, 9, 11... Elas se
mantinham na média de 10 minutos de intervalo. Vamos dormir? Se eu conseguir,
sim. E dormi. A cada hora acordava com a dor forte da contração. Uma dor fina,
tensa e de uns 30 segundos. A cada hora? Não é possível! Cinco e meia da manhã
chega uma mensagem de texto da doula. E aí? Estou dormindo, pródromos, a cada
hora. E ela foi para o parto de um amigo querido. Que coincidência... bela e
leve.
37 semanas e 5 dias
Então a terça feira chega,
acordamos e vamos para o ultrassom. As contrações já apareciam a cada meia
hora. E a água? Onde estava? Absorvente seco? Parei de vazar. ILA 12,1. ILA
12,1? Normal! Recuperação perfeita. Como deveria ser! Saímos do laboratório
comemorando e chorando, claro! Já se distanciava o meu horror do hospital...
Cardiotocografia marcada para sexta feira, pois com o líquido normalizado não
tínhamos nada a temer. Minha musculatura relaxou, meus pensamentos clarearam,
minhas bochechas coraram... Consulta com a parteira e o teste do líquido
amniótico. Sim, o que está (estava) vazando é (era) líquido amniótico, sim,
bolsa rota. Confirmado. Desde quarta com bolsa rota. Para casa volver e
descansar.
Yoga às quatro. Jo, você não vai
pra yoga! Claro que vou, Rodrigo! Não! E saí correndo pela porta. Fugi! Ai, que
delícia! Vou fazer o que quero e me faz bem! Minha professora, também doula, deu uma aula
própria para meu estado “prodromesco”.
Aula particular, casualmente. Coisa boa! Muita respiração e massagem. Na
saída recebo a ligação da minha homeopata que havia combinado de passar na
minha casa para apertarmos o décimo primeiro ponto do Timo. Que bom que ela
vem. Tinha certeza que esta estimulação ia fazer com que eu entrasse em
trabalho de parto de fato. Ela veio, conversamos, apertou, nos abraçamos e se
foi. Às dezoito horas me deu uma vontade louca de comer lámen e, contrariando a
vontade do Rô, fomos ao Aska, restaurante japonês que só faz lámen, uma sopinha
japa deliciosa e “espiritualizada” (pra mim, claro). Comemos no balcão; as contrações vinham e os
cozinheiros se divertiam com aquela situação bonita. Ao nos despedirmos a japa
dona nos contou que uma amiga dela gravidíssima foi comer lámen e saiu de lá
direto para o hospital. Eu ri e pensei que sim, eu sairia dali mais preparada.
Uma hora depois as contrações voltaram aos intervalos de 10 minutos. Mais duas
horas e a lua mudou. Minguante. Agora eu tinha certeza que a coisa ia em
frente! Chega dessa espera interminável, filhinho! Vem pra esse mundão!
E finalmente ele quis.
Madrugada adentro com contrações
espaçadas, em intervalos de 30 minutos. Mas, pombas! Será que a madrugada inibe
o meu trabalho de parto? E a cada contração uma ida ao banheiro. Meu intestino estava
se esvaziando regularmente.
37 semanas e 6 dias
A segunda quarta-feira do
processo chega. Sete dias processuais, intensos e nada lineares... Quase como
uma batida de coração. Tumtum, tum, tumtumtum, com todos aqueles altos e baixos
irregulares... Aquelas dores não eram dores. Eram parte de um ritual de
passagem que não poderia passar despercebido, nem rápido demais. Deveria ser
vivido às extremidades da emoção.
10 em 10. E a doula dizendo que
parto ativo são 14 contrações por hora, e aí ela viria. Ora,ora, se isso não é
parto ativo, é o que? Trabalho de parto, meu bem. Quando eu tiver a 5 em 5 o
Joaquim vai escorregar! Ligo pra parteira e digo que a coisa não avança. Já são
7 dias de processo, neles 4 de pródromos e neles também 2 de trabalho de parto.
Não acha que está um pouco longo, não? Que tal uma acupuntura? Dra. Eneida
iluminada. Até aquele momento meu corpo se enrijecia a cada contraída. A dor
era grande e vinha do corpo todo. Uma tensão sem fim. Sair de carro e contrair
dentro dele foi a pior coisa que pude viver no processo. Cada buraco um
precipício. Acho que já falei isso antes, não? Mas estava melhor, porque
descobri que o carro de minha mãe era mais mole, então o pegamos emprestado
para chegar até a acupunturista. Aliás, mamãe já estava em casa arrumando tudo,
limpando, cozinhando... eu diria que harmonizando... Chegamos lá e Dra. Eneida,
com toda sua calma e luz, me relaxou. Eu dizia que precisava apressar um pouco
a coisa, porque já estava há muito a 10 em 10, e a coisa deveria chegar a 5 em
5. Ela enfiou suas agulhinhas mágicas em mim, me olhou com carinho e me disse
que a contração era uma onda, que meu corpo deveria nadar por esta onda e não
tentar fugir dela. Voltei pra casa com o corpo totalmente diferente. Leve, na
onda, mais mole... Moleza era o que eu precisava desde segunda ao cair da
noite. E só agora, quarta-feira, duas da tarde, tinha a conhecido. A partir
deste momento comecei a curtir de verdade cada contração. E foi uma curtição
diferente de todas que já senti. Uma dor-não-dor, um algo-a-mais pra sentir...
E a embriaguez começou ali. Quem já tomou um ácido e teve uma viagem boa, sabe
do que estou falando. A cada contração uma sensação diferente, um pedaço do
encontro com o meu filho.
Pega a bola, levanta, deita,
anda, caga, que? Não sei. Por favor, não falem comigo enquanto contraio, catzo!
Aliás, não falem enquanto contraio! Levanta da mesa para contrair. A melhor
posição é de pé, vertida pra frente, segurando em algo. Comemos. Maridão e
mamãe emocionados, apreensivos, companheiríssimos. Ana Cris liga e diz que vai
pra Campinas. Que? Pirou? Mas não falei, só pensei. Pombas, meu filho vai
nascer sem você, ô sem noção! Mas, ó, vou te ligar antes de sair para ver se dá
pra eu ir mesmo. Tá bom. Com voz de desenho animado com o rabo entre as pernas.
Chorei. Chorei muito. Rô! Faz alguma coisa! Alguns minutos depois ela liga de
volta e diz que não vai mais não. Ela sabia que o Joaquim ia nascer. Mesmo
assim eu gritei para ela ouvir do outro lado da linha. Rô, fala pra ela que o
Joaquim vai nascer sem ela!
Subo para o quarto, vamos encher
a piscina? Rô começa a rearranjar os móveis e eu vou administrando as
contrações. Cada uma que vinha eu “mantrava”. O mantra Om era o melhor, mas eu
só conseguia vibrar no “A”. E vibrei alto. Ana Cris manda mensagem dizendo que
vem antes do rodízio. Viva! Finalmente ela percebeu que eu não vou sair desses
10 em 10!!! Venha logo minha querida! E fui para o chuveiro. Lá dentro chorei
muito. Porque é tão emocionante pensar que eu seria mãe, que meu filho estava
chegando, que nossa vida ia mudar radicalmente... Aquela água quente caía e
minhas lágrimas caíam junto.
A parteira chegou por volta das
cinco da tarde e fomos fazer o exame de toque. Finalmente, porque por causa do
vazamento não pudemos fazer o exame desde que a bolsa se rompeu. 7 para 8
centímetros de dilatação. Então foi isso! Meu processo de TP não chegaria a 5
em 5 tão fácil, pois sabe-se lá desde quando eu estava dilatando... mas que
estava, estava, e de vento em popa! Logo chegou a doula e começou a me massagear.
Eu estava na bola e a bola sobre a cama. Um vai-e-vem acalentador...
Em poucos minutos as ondas se
enfureceram. Parece até que meu corpo estava apenas esperando minha equipe
chegar para me amparar. Uma contração, menos de 2 minutos outra, menos de um,
outra. Ai! Porque tão perto assim? Porque agora é piscina! E dos 10 aos 2, sem
passar pelo típico 5 em 5. Porque é sempre assim: comigo nunca nada é normal do
começo ao fim.
Entrei na piscina que estava
pelando. Ô chuveiro bom, sô! E as ondas enfurecidas se transformaram em riacho
correndo no leito em dia de sol de outono...
A emoção foi muito forte. Só
conseguia pensar nas transformações em que nossas vidas mergulhariam dali pra
frente. Que meu grande amor era mesmo meu grande amor. Que gostaria de viver
com ele para sempre, porque ele é surpreendente. Que companheiro! Perfeito,
sempre perto, carinhoso, amoroso, atento. Um olhar brilhante. Pensava também
como é bom ter uma mãe que participa das minhas escolhas com paixão e
acolhimento. E ela estava junto conosco, presente de uma forma tão única que me
fazia chorar. Eu jamais poderia pensar em parir sem minha mãe por perto. Porque
foi ela que me ensinou a amar, a me apaixonar, a ter tesão na vida, a bancar
minhas escolhas e a arriscar. Risco é complexidade, dizia ela.
Naquele momento tudo era vivido
sob um nevoeiro de ocitocina. Vivido, sentido, pensado, falado.
As contrações sempre próximas e
fortes. Mas o que eu sentia não era dor. Era intensidade. Era um corpo se
abrindo, se preparando. Embriaguez plena.
E, de repente, meu corpo pede
para expulsar. A intensidade que inundava o corpo muda seu foco: o ventre. Ó,
ventre iluminado! E contraiu-se apenas o ventre. Quanta força, quanta força. “Vai
nascer!”, gritei. Nesta hora a parteira entrou no quarto e lá ficou. As
contrações se espaçaram novamente, e a cada uma o ventre se endurecia como
nunca e meu corpo fazia força. Força para sair. Mas eu não queria estar ativa;
queria que Joaquim viesse ao mundo sem que eu o empurrasse para ele. Mas não é
assim que funciona... E, na embriaguez plena, em meio a luzes como de
discoteca, sons retorcidos e muito calor, vejo a cara da minha linda parteira
aparecer. Tudo rodava e escuto “Jo, o Joaquim precisa da sua ajuda para vir ao
mundo. Você VAI TER que fazer força. Segura o ar e empurra!”. Acontece que eu
não sabia fazer esta força específica. É que a contração do ventre era tão
forte que eu segurava o ar e ele saía, junto com a voz. Precisei aprender ali,
na hora, como fazer esta expulsão. E foi o maior barato! Eu ali, aprendendo a
ser mãe... É. Primeiro aprendizado: como ajudar o seu filho a vir ao mundo. Bem-vindo!
Depois de muitas tentativas
frustradas, consegui finalmente fazer a força certa. E Joaquim começou a
mostrar seu cucuruto. Quanto cabelo! Vem, meu filhinho! E este momento foi
longo. Com as contrações espaçadas, a coisa foi durando... E a cabecinha vinha,
e ficava. Vinha, e ficava. Eu precisaria de mais contrações por tempo. Mas como
não tinha, o jeito era empurrar mais e mais. Quanta força! Quanta intensidade
esta vinda ao mundo, meu filhinho! Ana Cris queria me mostrar a cabecinha no
espelho, mas eu só queria sentir. A visão daquela xoxota aberta com o topo da cabeça
do meu filho aparecendo era muito esquisita pra mim naquele momento, porque o
que eu sentia era tão diferente daquilo... e a coisa caminhou... Caminhou até
que a cabeça começou a aparecer para fora de mim. Uma coisinha enorme, redonda,
mole e cabeluda! E neste momento senti o que não havia sentido ainda: aflição.
Aflição porque meu períneo estava alongando rápido demais. Ardor. Muito ardor.
E aí veio o segundo aprendizado: às vezes é preciso abstrair os riscos para
conquistar. Porque eu achava que o períneo ia lacerar, e não empurrava com a
força necessária para a cabeça sair inteira. Demorei umas 5 empurradas para
conseguir relaxar e arriscar. Até então a cabecinha vinha e voltava, porque eu desistia
de empurrar no meio do processo.
Mas quando meu corpo entendeu que
a vida é risco, empurrei. Empurrei com a maior força que já fiz na minha vida.
Parei de sentir aquela aflição e
senti prazer. Um prazer emocional. Meu filho estava prestes a nascer.
Num grito a cabecinha saiu e a
segurei com minhas mãos! Uma coisinha redonda, quente e molinha... E neste
momento misturaram-se o medo, a insegurança, o poder e a ternura. Mais uma
empurrada e num último grito ele nasce feliz! O corpinho passando foi uma
sensação de alivio imenso, às 20 horas e 47 minutos.
Olhamo-nos fixamente. Como foi
forte a sensação de conhecer meu filho, enfim! Aquela testa enrugada e aqueles
olhinhos redondos e pretos bem abertos e atentos... olhando fundo dentro de
minh´alma. Nunca d´antes alguém havia olhado tão profundamente para mim. Para
dentro de mim.
Ficamos alguns momentos nos
olhando, acariciei seu corpinho quente, trouxe para pertinho de mim, enquanto a
parteira aplicava ocitocina na minha coxa para conter o sangramento – na água
não se tem como medir o tamanho do sangramento, e a ocitocina previne a
hemorragia (quando chegamos à cama concluímos que o sangramento não foi tão
grande). Rodrigo acompanhava tudo sobre meus ombros. O cordão ainda não havia
parado de pulsar e precisávamos ir para a cama para o parto da placenta. Então levantei
com meu filhinho no colo e fomos até o quarto. Deitei na cama e numa forcinha
de nada a placenta saiu. Não senti mais do que uma meleca gigante saindo de
dentro de mim. Apenas nesta hora que Joaquim quis mamar. Já havia reconhecido
sua mamãezinha o suficiente. Pega perfeita. Que corpinho inteligente...
Logo a pediatra trouxe Rodrigo
para cortar o cordão, e o fez. O pai cumpriu seu papel de ser responsável pela primeira
separação física entre mãe e filho. Mas só depois do cordão ter parado de pulsar, como deveria ser.
Três quilos e noventa gramas,
quarenta e oito centímetros. Nenhuma laceração.
Parteira incrível (que cultivei
amor e admiração), doula mágica (quanto carinho) e pediatra hippie (que recebeu meu filho com respeito e cuidado) foram embora
silenciosamente depois de se deliciarem com as comidas que preparamos para elas
com todo nosso amor.
Mamãe-vovó companheira no quarto
ao lado.
E Joaquim entre seus novos pais.
Cansados, sorridentes, corajosos e amantes.
Obrigada vida, por me oferecer a
possibilidade de viver o momento mais intenso vivido até hoje.
Joana Imparato
São Paulo, inverno de
11 de Julho de 2012.